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EINSTEIN APOSTA EM VALOR PARA RESOLVER A EQUAÇÃO DA SAÚDE

Os cidadãos estão progressivamente exigindo acesso a melhores serviços médicos e mais qualidade de vida. Mas é mais difícil resolver esse quebra-cabeça quando as peças representam as exigências de todos os protagonistas envolvidos: governos, companhias de seguro, planos de saúde e pacientes. Como podemos nos focar no bem-estar daqueles que sofrem para prevenir doenças crônicas sem esvaziar seus bolsos? O Hospital Albert Einstein em São Paulo, Brasil, encontrou uma solução.

A chave do novo modelo não é apenas reduzir os custos dos serviços e tecnologias, mas também focar no que mais importa aos pacientes e cobrar por resultados reais. “Pague apenas se der resultado” implica uma revolução que está apenas começando na América Latina. E promete beneficiar pacientes — no centro dos interesses de todos — bem como os abalados sistemas de saúde da região.

Mudança necessária

O sistema de saúde baseado em valor (VBHC — Value-based healthcare) foi o modelo que o economista da Escola de Negócios de Harvard Michael Porter propôs há mais de uma década. E é o mesmo modelo que países importantes estão adotando para resolver a grave situação que aflige seus sistemas de saúde.

O prestigioso Hospital Albert Einstein também empreendeu essa jornada. Em vez de cobrar por cada consulta, geração de imagem, testes de laboratório ou cirurgia, esse grande sistema hospitalar — encarregado de administrar diversos centros de saúde públicos e privados — tomou a decisão de começar a cobrar pelo ciclo completo de tratamento, com base em resultados clínicos, bem como em níveis de satisfação do paciente e qualidade de vida alcançado.

“O atual modelo de pagamento incentiva a aceitação de mais pacientes e a realização de mais procedimentos, mas não é sustentável”, disse o presidente do Hospital Einstein, cirurgião Sidney Klajner, que é pioneiro nessa mudança. “O modelo de valor é focado em evitar desperdícios (procedimentos desnecessários, prevenção de complicações e readmissões), e em aumentar a qualidade e a segurança”.

O presidente do hospital — uma organização privada, sem fins lucrativos, estabelecida pela Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein há mais de 60 anos — sabe que essa transformação vem com suas dificuldades. Mas Klajner está certo de que o que precisa ser medido com precisão é o valor do tratamento de saúde fornecido a pacientes durante as consultas e, mais tarde, cobrado dos planos de saúde, dos governos ou de indivíduos.

Em 2013, o Einstein começou a trabalhar com grupos multidisciplinares, liderados por médicos, por doença ou terapia médica (obesidade e risco metabólico, distúrbios de movimento, entre outras). Atualmente, mais de 900 médicos participam de tais grupos, conhecidos como “GMAs” (Grupos Médicos Assistenciais). Além disso, o hospital treina estudantes de medicina no conceito de valor. “O desafio é responsabilidade dos médicos”, admite Klajner. “Precisamos torná-lo atraente o suficiente para eles não se focarem apenas na cobrança dos serviços que prestam, mas também em um compromisso com a boa saúde, prevenção e valores que são importantes para cada paciente”.

“O valor varia de paciente para paciente e de população para população”, disse Klajner. Para alguns, ele pode se referir à prevenção de doenças; para outros, se refere a reduzir pagamentos ou ter melhor tratamento. Em um sistema tão complexo, com muitas partes interessadas, questionários nos ajudam a entender o que os pacientes valorizam”.

Resultados e sustentabilidade

Para expandir essa nova cultura e padronizar as conclusões, o Hospital Einstein vem se focando em manter registros dos resultados. Em fevereiro de 2017, o hospital criou o Escritório de Gestão de Valor (VMO — Value Management Office), um serviço central com pessoal dedicado, que trabalha para integrar diferentes fontes de informações, de registros médicos eletrônicos a resultados e financiamentos, em uma plataforma de inteligência empresarial para que a análise do paciente e do médico possa ser realizada para condições médicas durante o ciclo de tratamento.

“A missão do VMO é implementar o novo programa em todo o hospital”, explica a gerente do VMO, Marcia Makdisse. “O objetivo é aplicar isso no contexto clínico da América Latina, de forma que os pagantes irão concordar em mudar o modelo de pagamento por serviço (fee-for-service) para esse novo modelo”, disse a cardiologista, que também tem um MBA e administra a Divisão de Prática Médica.

De acordo com Marcia Makdisse, a primeira experiência bem-sucedida foi em uma cirurgia para dor nas costas. Através do programa “Segunda Opinião”, o hospital ofereceu [serviços] de reabilitação a pacientes, durante consultas de encaminhamento a especialistas, e estabeleceu critérios claros para intervenções. Isso beneficiou os pacientes e ajudou os planos de saúde a não ter de fazer pagamentos de milhares de cirurgias. “Queremos aplicar esse modelo a outros problemas médicos”, disse entusiasmada Marcia Makdisse, que gerencia os resultados de 29 problemas de saúde, sete já baseados nos padrões do Consórcio Internacional para Medição de Resultados em Saúde (ICHOM – International Consortium for Health Outcomes Measurement).

Com o objetivo de calcular o valor de cada ciclo de tratamento, especialistas do Hospital Einstein medem três tipos de resultados: resultados clínicos (taxas de mortalidade, readmissões, infecção), medições de resultados relatados por pacientes (níveis de funcionamento e qualidade de vida do paciente) e medições de experiências relatados por pacientes (percepções dos pacientes baseadas em questionários, tais como o Net Promoter Score). Os resultados são inseridos em uma plataforma eletrônica, que possibilitará, em breve, interação com os usuários via telefones celulares.

Construindo valor juntos

“Precisamos mudar de uma cultura de volume para uma cultura de valor, melhorando o tratamento de saúde e as eficiências tecnológicas, sem comprometer a segurança das pessoas”, declarou Marcia Makdisse. “O modelo de valor significa melhores diagnósticos e tratamentos, bem como menores custos e menos desperdício”.

Esse novo caminho está ganhando mais ímpeto. “Estabelecemos nosso Escritório de Valor e nossos próprios programas e encontramos uma visão comum com a Medtronic, de forma que queremos desenvolver projetos juntos”, diz Klajner. Projetos-piloto irão se concentrar em diabetes, estenose aórtica e cardiopatia coronariana.

Inspirado pela Clínica de Diabetes da Medtronic na Holanda, o Hospital Einstein irá aplicar o modelo através de um programa para educar, diagnosticar e tratar o diabetes de todos os seus funcionários e familiares (uma população de 27.000 pessoas). “Esse é um esforço colaborativo entre o Einstein e a Medtronic, em que já começamos a desenvolver pacotes de um modelo do ciclo-pague-por-tratamento (pay-per-care-cycle)”, acrescentou Marcia Makdisse.

Se o programa funcionar, o Hospital Einstein irá oferecê-lo a novas instituições de saúde no Brasil e irá criar alianças com hospitais na América Latina. “Não existe um modelo único que serve para todos”, esclareceu Klajner. “Mas eu experimentei os conceitos de valor, qualidade e sustentabilidade na minha própria prática, de forma que estou comprometido com sua expansão não apenas para o benefício dos pacientes de nosso hospital, mas também para melhorar a saúde de todos os brasileiros — um elemento fundamental da missão do Einstein”.